Sem forças pra viver, homem contrata alguém pra matá-lo, ele não saberá quando o matador fará o combinado, contudo, o encontro com seu executor, lhe mostrará que há vida após a morte, a morte da alma. Leia um romance cristão completo em 30 capítulos, disponíveis gratuitamente aqui neste blog.
18 de out. de 2014
17 de out. de 2014
Introdução
“Senhor, tem
compaixão de mim, porque sou fraco; cura-me, Senhor, porque meus ossos estão
abalados. Meu ser está muito perturbado; mas tu, Senhor, até quando? Volta-te, Senhor,
e livra-me; salva-me por tua misericórdia. Pois na morte não há lembrança de
ti; na sepultura, quem te dará louvor?” (Salmos 6.2-5).
A vida com Deus transforma-nos em
músicos, caçadores de inspirações que nos levem a compor cânticos de louvor ao
criador. Cada luta, cada dor, cada dúvida, é uma oportunidade para que adoremos
a Deus por cada vitória, cada alegria, cada certeza que ele nos dá quando o
buscamos. Então, pra que morrer? Eis a oração que o filho amado deve fazer, não
o rebelde, mas aquele que sabe tocar o coração do pai com uma intenção sincera:
“Livra-me Senhor, não porque eu
ache injusta tua disciplina, não porque eu ache-a desnecessária, muito menos
porque eu considero tua atuação exagerada, não, meu Deus, eu confio em ti,
aceito a tua vontade, acredito de todo o meu coração que o Senhor sabe o que
faz, nos mínimos detalhes e em todo o tempo.
Mas meu Deus, eu peço que se
possível o Senhor abrevie meu sofrimento, sofrimento causado por mim mesmo, por
mais ninguém, eu admito, pela minha rebeldia, pelo meu egoísmo, pelas minhas
vaidades, abrevie senão eu perecerei, e que vantagem tem para ti um morto?
Um morto não pode louvá-lo, não
pode contemplar a beleza da tua santidade, a profundidade de tua sabedoria, e
te adorar, já que outro motivo maior não existe para minha vida do que te
adorar. Na adoração há vida, e eu, pequeno e pecador como sou, recebi de ti a mais
precisa das ferramentas de adoração: a música.
A música, contudo, não são as
notas musicais, o sincronismo de ritmos, as sonoridades de instrumentos e
vozes, a música que mais te agrada é a alma limpa e totalmente focada em ti,
alma-espelho da tua presença, que vivencia o céu dos céus, habitação da tua
majestade, mesmo na limitação da existência encarnada.”
Um pedacinho de infinito é
menos infinito que o todo? Esse é o privilégio que o Senhor concede aos salvos
em Cristo, compor com ele, o Rei dos Reis, uma sinfonia única, universal,
eterna, a mais excelsa de todas as canções, que soará pelos séculos dos
séculos, cada homem funcionando como uma nota, um som, e todos perfeitamente
harmonizados numa vida eterna.
“Também ouvi todas as criaturas que estão no céu, na terra, debaixo da
terra, no mar e tudo que neles existem, dizerem: Ao que está assentado no trono
e ao Cordeiro sejam o louvor, a honra, a glória e o domínio pelos séculos dos
séculos!” (Apocalipse 5.13).
Todas as citações bíblicas usadas foram retiradas da
Bíblia versão Almeida Século XXI da Editora Vida Nova
José Osório de
Souza, 16/06/13, Itu/SP
16 de out. de 2014
Capítulos
01 - All
star azul
02 - Breno
03 - Sábado
de manhã
04 - Cano
do revólver
05 - Invenção a três vozes
06 - Um anjo sobre aquele lugar
07 - Não é fácil morrer
08 - Fazendo o balancete
09 - O preço de uma morte
10 - Caminhando entre os espíritos
11 - Desejo calado
12 - Solidão
13 - Matar ou morrer
14 - Vida após a morte
15 - Os loucos também tomam café
16 - Trevas tão minhas
17 - De passado não se vive
18 - Andor
19 - Cientista e astronauta
20 - Vernissage
21 - Conspiração
22 - O beijo da morte
23 - Black sabbath
24 - O relógio e as fotos
25 - Sonhar é preciso
26 - Paixão, amor e morte com miojo
27 - Amigos e amantes
28 - “Raimundo, um café para Lázaro, por favor”
29 - “Que queres que te faça?”
30 - Uma razão pra viver
15 de out. de 2014
01 - All star azul
Luz sobre luz, nem dava
para ver os olhos dela, foi só aos poucos que fui me acostumando, mas não era
uma claridade que doía, era gostosa. Como num filme onde uma única câmera é
usada e fica solta nas mãos do operador, inclinando-se, tremendo, acompanhando
com liberdade e ligeireza os movimentos da atriz, assim eu via as imagens. A
imagem, porque o rosto dela não saía de foco, a câmera, apaixonada por ela,
tentava invadi-la, mas era ela quem invadia a câmera. Às vezes eu via só a
boca, às vezes só um dos olhos, às vezes uma mexa de cabelo, ansiosamente eu procurava
algo que fosse além dos flashes.
Cabelos curtos e
castanhos escuros, lisos, olhos grandes, lábios grossos que nunca precisaram de
batom, e um sorriso maroto que colocava em seu rosto um jeito de criança que não
iria embora facilmente. Os anos passaram por ela, não muitos, sem que ela
deixasse de querer brincar, sem que ela parasse de fazer graça. Agora eu já
podia vê-la com mais nitidez, a luz da alma se acalmava e eu via a luz do céu,
um sol forte de meio-dia, sol de setembro esquentando um resto de inverno, mas
ela era assim, um raio forte de luz sobre icebergs de carne e osso. Sentada na
grama, verde claro de natureza nova, ela despetalava uma rosa, fazendo roleta-russa
com o bem me quer, mal me quer.
Ela levantou-se,
calça jeans surrada e apertada sobre pernas finas e longas, all star azul de
cano alto, como o da canção do Nando, camisa branca para fora da calça, solta
sobre os ombros, com as mangas dobradas até os cotovelos. Não sei o que era
mais limpo, o sol, sua camisa ou seus olhos. Então começou a andar,
displicentemente, mas sempre sorrindo, eu a olhei de baixo para cima, ela
parecia pisar nas nuvens, mas era somente sua cabeça que estava lá em cima,
como sempre esteve, seus pés marcavam o chão. Continuou caminhando, eu a vi por
trás, sua nuca, seus ombros, e lá na frente o mundo se acabou.
Deu-me medo, tudo
ficou subitamente escuro, a grama verde e o céu azul deram lugar a uma
metrópole onde o cinza era o que havia de mais dia. Por um momento ela olhou
para trás e eu vi seu rosto apertando-se, o sorriso com o canto da boca se recolheu
e ela se entristeceu, mas logo tornou a olhar para frente e caminhar.
À medida que
caminhava o calor foi se dissipando, eu que a observava do olimpo, com todas as
fraquezas e vaidades de um deus inventado, carregado de inveja e de desdém, comecei
a sentir frio. Ela cruzou os braços e esfregou o braço esquerdo com a mão direita,
ela também sentia frio, mas precisava seguir em frente.
Vi-me sendo elevado
e agora eu a enxergava lá embaixo, dando os primeiros passos para dentro de um
centro urbano, um lugar confuso e sujo, que me pareceu perigoso. Não havia Deus
naquele lugar. Pode o criador abandonar assim o que criou? Pode um jardim
transformar-se num lixão? Pode um ser humano, imagem do criador ver sua beleza distorcida
numa caricatura demoníaca? Pode, o homem deixa que isso aconteça e Deus
permite.
Agora ela passeava
entre seres estranhos, monstros mitológicos, pés de rato, troncos de homem,
cabeças de bode, morcegos com caras de mulheres velhas, cobras com rostos de
belos e sinuosos jovens maquiados exageradamente, eles eram horríveis. Agitavam
as mãos, emitiam sons amedrontadores, faziam caretas, mas não saíam do lugar,
permaneciam encolhidos no chão como se uma força invisível os mantivesse
amarrados. Muitos eu só enxergava partes do corpo, mas eles pareciam
esforçar-se para manter uma forma corpórea já que os membros sumiam e
apareciam, passando da forma monstruosa para algo que parecia um líquido
pastoso. Quando se moviam eu conseguia ver os rostos que deixavam as trevas e
se arriscavam nas sombras, aliás, sombras eram o máximo de luz que eles podiam
suportar.
Os seres estavam em
constante estado de tortura, apenas num instante de um êxtase sinistro eles
conseguiam provar algum prazer, o prazer dos psicopatas cruéis e egoístas que
destilam uma gota de satisfação diante do sofrimento inocente.
Eu senti o medo que
ela sentia andando entre aquelas criaturas, mas o medo não a impedia de continuar,
ela precisava estar lá, ela não tinha outra saída. Ela fazia isso há algum
tempo, nunca deixou de se sentir amedrontada, mas sempre foi em frente. Na
verdade ela provava um prazer torcido de experimentar aquela situação.
Para muitos, a
única maneira de se esquecer da dor, mesmo que por um curto espaço de tempo, é
sentindo uma dor maior. Mas que dor é maior que aquela que se sente por algo
que não se vê? Que não se controla? Que não se sabe de onde vem? Ali, naquelas
ruas, naquela noite sem fim, o medo podia ser visto, controlado, desviado, esse
era melhor que o medo que ela carregava em seu coração. Mas se fosse perguntado
a alguém que a conhecia, esse diria com toda a certeza que ela não tinha medo
de nada. Talvez não ter medo signifique não experimentar a ausência dele, mas ter
a capacidade de convencer os outros que o medo não existe. Ela fazia isso muito
bem, com charme, com seu sorriso de canto de boca, com suas mãos nos bolsos,
com os braços colados ao corpo, chutando alguma coisa com seu all star.
O caminho que a menina
percorria levou-a a um lugar tenebroso, um lugar sem sombras, um reino de trevas
totais, de alguma maneira eu podia ver o que acontecia lá. No centro daquela
escuridão havia uma região azulada, um neon pouca coisa mais claro que o negro
ao seu redor, uma treva diferente da própria treva, um local onde parecia que o
mal tinha uma liberdade limitada para existir. Aquela região parecia ter vida
própria, mas era diferente dos monstros pelos quais ela havia passado, começou
a crescer em sua frente e foi subindo, subindo, algo começou a crescer, ganhar
corpo até que alcançou altura próxima a quatro metros. A forma tinha pernas e
braços, e no alto de seu corpo azul dois pontos vermelhos incandesceram-se, eram
pequenas labaredas de um fogo frio, convergência de toda a maldade que existe
no universo. A forma se pôs a falar com ela, eu não entendia o que era dito,
nem via qualquer espécie de boca se movendo, mas sentia que o ser se comunicava
com a menina.
A garota ficou
parada por alguns instantes, ouvindo, então ela estendeu a mão direita aberta
para o ser. Esse estendeu a sua mão e depositou sobre a mão da menina, e isso
eu vi com clareza, três círculos dourados, parecendo-me moedas. A menina pegou
as moedas, colocou em seu bolso, abaixou a cabeça, deu meia volta e voltou pelo
mesmo caminho que veio. A coisa ficou por lá em pé, não diminuiu de tamanho, eu
sentia em meus ossos o pavor que a garota sentia por dar as costas a uma coisa
tão terrível, eu que olhava tudo prepotentemente de cima. Senti medo, mas achei
que estava protegido.
Então o ser olhou
para cima, esqueceu-se da garota e fitou seus pequenos e vermelhos olhos em
mim. Fui então derrubado de minha cômoda posição, caí ao chão, no meio daquela
cidade suja. Vi o ser se aproximar de mim, encolhido que eu estava, como os
pequenos monstros do caminho, aqueles que eu desdenhei antes, vi o ser se
encurvando sobre mim, como que querendo me abraçar. Faltava-me o ar, eu o
puxava pelas narinas, mas meus pulmões não funcionavam o suficiente, entrava em
meu corpo um ar viciado e morno com cheiro de parafina queimada e alho,
enquanto eu via os pontos vermelhos chegando cada vez mais perto de mim.
Mas nesse momento, tremendo de horror, vi à
direita, vindo do mais alto do céu, dois pontos brancos, eles foram caindo e
crescendo até que pousaram sobre os pontos vermelhos. Então houve uma explosão,
silenciosa, e tudo, o ser, os monstros, a cidade, polvilharam-se em pequenos
grãos que sumiram no ar. Ficou um céu azul lindo, e eu agora estava novamente
elevado sobre as nuvens. Lá embaixo a menina caminhava, no meio da grama verde.
Ela então parou, colocou a mão direita no bolso e tirou as três moedas de ouro.
Ela olhou para os círculos dourados, virou-os para um lado, para o outro, e
então olhou para cima, parece que ela me enxergava. Vi seu sorriso bobo e lindo
brincando comigo, enquanto ela jogava, sem dar muita importância, as moedas ao
chão.
Algo estranho
aconteceu, o chão engoliu as moedas e sobre o lugar nasceram três flores. A
menina então sentou-se no chão, arrancou uma das flores e se pôs a brincar com
as pétalas. Ela estava diferente agora, não parecia aquela de vinte e poucos
com rosto de quinze, era uma mulher madura, e no lugar da calça jeans e da
camisa branca masculina, ela usava um vestido colorido, continuava com ela o
sorriso maroto de canto de boca e o all star azul de cano alto.
Acordei daquele
sonho me sentindo esquisito, havia uma euforia gostosa, mas reprimida, isso
apertava meu coração. Eu sentia que algo bom poderia acontecer, contudo parecia
que coisas ruins, pessoas ruins, sentimentos ruins, impediam aquilo. Na verdade
eu tinha medo de felicidade, já a tinha desejado tanto e ela sempre se mostrava
falsa. Eu não queria ter outra decepção, não suportaria isso, não tinha mais
forças para construir algo, ver isso ruir e depois ter que continuar vivendo.
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O Espírito Santo
acompanha o homem por toda a vida, ele está sempre procurando uma oportunidade
para mostrar que Deus existe, está próximo e quer ajudar. Todavia, antes de
tomar uma decisão consciente ao lado de Deus, o homem caminha no escuro, não sabe
para onde vai, não enxerga o mundo, as pessoas e a si mesmo com clareza. Nesse
caminho cego ele tropeça, bate de frente com as coisas, se machuca e machuca os
outros. Mas o Espírito Santo está sempre falando, chamando, revelando os tempos
da vida. Mesmo que no escuro o homem confunda as coisas, esteja à mercê da
mente e das paixões assim como das manifestações diabólicas, às vezes ele pode
reconhecer a voz amorosa de Deus.
Os homens estão
sedentos pela eternidade e são facilmente seduzidos pelos ministérios da
espiritualidade, vê-se isso no consumo deslumbrado que se tem por bruxaria e poderes
sobrenaturais vendidos pelos livros e filmes sobre magos e super-heróis. Mas no
orgulho de querer entender e controlar tudo com a própria mente, eles continuam
presos a este mundo, a esta existência, à carne. A eternidade de Deus só pode
ser vivida em Deus, e para isso não é necessário morrer na carne. Através de
Jesus começa-se a provar a eternidade nesta vida, já que as prioridades que o
Espírito Santo nos ensina através de Cristo são valores atemporais, virtudes
espirituais, os únicos bens que levaremos deste mundo para a eternidade.
Não despreze o
mundo espiritual, não brinque com o mundo espiritual, não se engane sobre ele,
ele existe, a sobrenaturalidade é real, mesmo que para Deus tudo seja natural,
tudo seja possível. Contudo, tenha humildade para se render ao Deus de Abraão,
de Israel, de José, de Moisés, de Samuel e de Davi, o pai do Cristo que viveu e
morreu sem pecado, e que ressuscitou e é o único e perfeito salvador do homem.
“Confia no SENHOR de todo o coração, e não no
teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele
endireitará tuas veredas.”
Provérbios 3.5-6
14 de out. de 2014
02 - Breno
O rosto de Raimundo
já estava formatado pela vida que levava a mais de trinta anos, sabia receber a
todos com um sorriso, ouvir a todos com respeito, dizer quase sempre as mesmas
palavras, mas palavras esperadas pelos ouvidos dos solitários, sim, porque
naquela hora da noite, só os solitários frequentavam o lugar.
As reclamações que
ele ouvia também não tinham mais novidades, eram sempre as mesmas, contudo, a
falta de originalidade não roubava dos queixosos a legitimidade. Se o problema
era falta de dinheiro, representava a privação de uma viagem para o norte, para
ver os pais que não se via há meses, se o problema era traição, significava a
perda da única pessoa com quem se dividia as mais profundas dores e as mais
reais alegrias da vida.
Dinheiro e mulher
eram os assuntos mais comuns, seguidos por futebol e política. Esses últimos,
sim, entediavam o pobre Raimundo, que debaixo o uniforme do bar ficava tão
elegante. Eu já o tinha encontrado durante o dia, na rua, e quase que nem o reconheci,
espantou-me quando vi que aquele psicólogo detrás do balcão, que se mostrava
tão paciente, enquanto tirava o café ou servia um pastel, era um homem comum,
com vida própria.
- Boa noite Rai –
eu disse.
- Boa noite, tudo
bom seu Zé? – respondeu Raimundo.
- Cansado, cansado
de fazer nada.
- Não está
trabalhando?
- Estou sim, cheguei
agora do Grande Hotel, toquei quatro horas de piano, minhas costas doem, meus
braços, minhas mãos.
Nem percebi que
Breno estava ao lado, encostado ao balcão.
- A vida é assim,
só canseira – intrometeu-se na conversa Breno.
- Nem vi que você
estava aí, tudo bom? – eu respondi.
- Vou levando –
respondeu Breno, sem mexer a cabeça, parado que estava com os olhos fixos num
ponto invisível.
Eu conhecia Breno
de lá do bar, não fazia muito tempo não, era uma figura quieta, um homem com a
minha idade, quase quarenta anos, magro alto, sempre bem vestido, de cabelo
cortado e barba feita com uma loção pós-barba que sempre denunciava sua
presença, aliás, eu a sentia antes de vê-lo.
Naquela hora da
noite, o tempo não funcionava como durante o dia, quando pessoas enchiam o
lugar, quando existiam casais, jovens, crianças, quando as pessoas que se acham
comuns frequentavam o local. À noite era lugar para fugitivos, os sem lar,
aqueles que queriam prolongar um pouco mais o dia, aqueles que não queriam um
novo dia.
- Obrigado – respondi
a Raimundo enquanto ele coava o café diretamente do coador para meu copo, café
que nem precisava mais ser pedido, Rai sabia que era esse meu pedido no início
da madrugada, às vezes eu comia alguma coisa, mas na maioria das vezes só
queria o café mesmo.
- Como foi o
serviço? – perguntou-me Breno.
- Destila-se
toneladas de mosto para se obter pequenas porções de aguardente, e essa só me
trará alguns minutos de embriaguez.
- Que vai fritar seu
fígado – riu Breno da minha simbologia.
- Cada vez o prazer
é menor.
- Você sempre
gostou tanto de tocar seu piano.
- Sim, mas até isso
tem perdido a graça – eu respondi.
Breno não estava
comendo e nem bebendo nada. De calça e camisa sociais pretas, combinava comigo,
eu estava de terno, gravada e camisa, todos pretos.
Acabei de tomar o
café, me despedi de Raimundo e saí do bar, Breno veio comigo. Já estava virando
um costume, caminhávamos juntos até a praça, sentávamos num banco e
conversávamos um pouco.
- Frio hoje – disse
eu, distante que estava, falei mais para mim do que para meu companheiro.
- Gosto assim –
respondeu Breno.
Breno era um bom
ouvinte, desses que a gente fica à vontade para desabafar, parecia um homem
experiente, vivido, cheio de malícia, sempre com uma resposta de sabedoria na
ponta da língua, me sentia bem com ele.
- Ainda penso nela
– eu disse.
- É, elas nunca
saem da nossa cabeça.
- Se as coisas
tivessem sido diferentes..., eu devia ter tido mais paciência, devia tê-la
ouvido mais, ela foi se afastando e eu nem percebi, quando me dei conta já era
tarde.
- Ninguém aprisiona
a alma de uma mulher, elas são livres, podemos possuir seus corpos, mas não
seus corações, as mulheres nunca se dão por inteiras.
- Os homens não são
assim, ou estão presentes de corpo e alma ou nem buscam estar junto.
- Elas dividem-se,
nos enganam, mas é esse jogo, essa posse sem direito, esse ter incompleto que
nos prende a elas, mas elas não fazem isso por maldade não, faz parte da natureza
delas.
- E como podemos
tê-las por inteiro?
- Não podemos, elas
precisam ser amadas apaixonadamente sempre, e cada vez de uma nova maneira. Os
homens se acostumam e se satisfazem em fazer as coisas de um mesmo jeito, elas
não, os homens morrem antes do que elas, não no corpo, na alma.
- Ela se apaixonou
por alguém – constatei triste.
- E você? –
questionou-me Breno.
- Eu estava
preocupado com minha profissão, com minha música, com minhas composições, que
nunca saíram do computador, nunca consegui convencer ninguém a gravá-las.
Filhos, a gente estava sempre adiando, hoje vejo que isso foi bom, se os
tivesse estaria preso a ela pelo resto da vida.
- Os filhos separam
os casais – disse Breno com frieza.
- Como assim? –
indaguei.
- Antes deles
existe romance, existe paixão, existe amor.
- Não sei, hoje
vejo crianças no colo de seus pais e sinto algo bom, demorei muito tempo em
minha vida para perceber as crianças, e muito mais para apreciá-las, na verdade
crianças é a única coisa neste universo com sinceridade, é a única coisa que
ainda me passa um sentimento bom, uma esperança.
- Esperança que
dura pouco, rapidamente elas crescem e se transformam em nós – disse Breno com
certo cinismo.
Não concordei com
aquilo, mas fosse como fosse, família e filhos eram algo que não pertencia a mim.
- Mas eu a amei, e
muito, como nunca – respondi.
- Eu acredito em
você – disse Breno, olhando-me pela primeira vez naquela noite, seus olhos eram
negros, profundos, pareciam dizer muito mais que suas palavras. Eu sentia algo
estranho com ele, sentia-me protegido, entendido, mas também sentia medo, um
medo sem explicação.
- Você já foi
casado? – perguntei a ele.
- Algumas vezes –
disse Breno com um sorriso sacana na boca, então se seguiu um silêncio que
pareceu durar bem mais que alguns minutos.
Passei os olhos ao
redor, olhei à esquerda, à direita, então larguei o olhar a minha frente. Não
havia ninguém na praça, a fileiras de postes de ferro com as luminárias criavam
uma estética agradável, deixavam o ar denso, aveludado. Fazia frio, mas não
havia absolutamente nenhum vento, nenhum movimento. O semáforo funcionava,
contudo o sinal vermelho mudou para o verde e ninguém passou. Por um instante
senti-me a pessoa mais sozinha do mundo. Tantos deveriam estar em casa, muitos
maridos, mesmo que sozinhos na frente de seus televisores, estariam seguros,
cientes de que mulher e filhos dormiam em seus quartos, protegidos pelo lar e
pela obviedade da vida normal. Vida normal, foi isso que eu busquei, foi isso
que eu quis, mas não mais naquele momento.
- Boa noite, estou
indo – disse Breno já em pé, a uns três passos distantes do banco, nem percebi
quando ele se levantou.
- Boa noite, meu
amigo.
Sentado, abri as
pernas, inclinei-se, segurei a cabeça com as mãos, fechei os olhos e respirei
fundo, então me levantei, olhei para o céu e desabafei:
- Deus, se você
existe, me dá um sinal.
Morava perto do
centro, chegava do Grande Hotel, deixava o carro em casa e ia a pé até o bar,
depois voltava, devagar, pensando a cada passo, pesando em cada passo minhas
agonias, tentando largá-las pelo chão, querendo aliviar minha alma. As estreitas
e antigas ruas daquela cidade não cabiam minha dor, mas me consolavam, braços
de uma mulher idosa, mornos, mas afetuosos, sempre disponíveis para me
acalentar.
Abri o portão, subi
as escadas da varanda, abri a porta da sala, liguei a lâmpada, entrei, fechei a
porta, e me sentei no sofá. O controle do televisor estava no braço da
poltrona, liguei e já fui abaixando o volume, queria imagens, mas não sons, o
piano ainda batia em minha cabeça.
Peguei meu celular,
havia uma mensagem de voz, o telefone nunca dá sinal em Águas de São Pedro,
alguém deve ter me ligado enquanto eu estava lá, pensei. Liguei na caixa postal
e ouvi a mensagem: “Oi, ainda lembra-se de mim? Tenho pensado muito em você
ultimamente, tenho algumas novidades pra contar, se puder, me liga depois,
beijo”. Era Celma, que novidades ela teria pra mim? Vai ver estava grávida do
namorado, não, decidi que não queria mais nenhum contato com ela.
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Deus sempre está
atento a nossos pedidos, e sempre, sempre nos responde, de uma maneira ou de
outra. Contudo, muitos de nós estamos com os ouvidos espirituais fechados,
estão abertos à razão, à imaginação, aos demônios, mas não a Deus. Deus sempre
fala prontamente e de maneira suave. Se tivermos atenção e temor, ouviremos,
imediatamente após uma pergunta a resposta tranquila e firme de Deus nos
respondendo.
A resposta de Deus
é sempre maravilhosa, sempre consoladora, mesmo que seja um espera ou um não
decisivo. Na resposta de Deus vemos a solução para o impossível, nosso coração
sente paz onde achávamos que não havia solução, sentimos esperança, onde antes
só existia angústia.
Na teimosia de
querer ver as coisas resolvidas do nosso jeito, amplificamos tantas vozes
dentro de nós, no meio de todo esse barulho a voz de Deus é confundida, e em
nossa rebeldia só nos resta seguir sozinhos, achando que todos, inclusive Deus,
esqueceu-se de nós.
A meditação e o
relaxamento que psicologias e religiões orientais tanto ensinam são uma
ferramenta poderosa, não para ouvir “espíritos guias” nem para curar ansiedades
e fobias através da própria mente, mas para ouvir a voz do Deus verdadeiro,
único e poderoso criador do universo, o médico para todas as dores e solidões.
“Assim como a corça anseia pelas águas
correntes, também minha alma anseia por ti, ó Deus!”
Salmos 42.1
13 de out. de 2014
03 - Sábado de manhã
Na manhã seguinte
acordei cedo, bem, pra quem foi dormir às três horas da madrugada, nove horas
da manhã é cedo. Eu estava empolgado, mas não sabia com que, queria ver o sol
do sábado sobre os rostos das pessoas. Manhãs de sábado é um luxo que músicos
dificilmente têm, já que às sextas-feiras sempre se trabalha até tarde. Mas eu
queria ver vida, vida brincando, vida passeando, então fui ao centro. Como não
podia deixar de ser, tomei meu café de costume, que naquela hora do dia era
feito pelo Célio, o Raimundo só entrava no serviço às quinze horas. Entrei
calado e saí calado, bons garçons sabem entender os humores de seus clientes.
A praça estava
cheia, crianças aprendendo a andar, velhos cansados de andar, jovens aprendendo
a namorar, velhos que ainda não tinham se cansado disso. Quem se cansa de amar?
Podemos não ter mais vontade de se deitar com alguém, mas todos nós queremos
brincar, sempre. Sexo de verdade só se prova na maturidade, quando se dá valor
ao processo, e não ao ato final de desaguar fluídos. Eu invejava todos aqueles,
crianças, jovens, velhos, que de um jeito ou de outro simplesmente brincavam com
a vida. Será que, afinal de contas, conseguimos fazer algo, além disso, nesta
existência? Brincar?
- Moço, pega minha
bola – chamou minha atenção um menininho de uns cinco anos de idade.
- Onde está, meu
querido?
- No meio dos seus
pés.
- Ah, desculpe-me,
nem percebi.
Peguei a bola,
olhei para ela e a rolei bem devagar na frente do garoto. Ele saiu correndo,
chutando a bola que logo em seguida foi parar embaixo de outro banco onde um
casal estava sentado. É, a bola estava entre meus pés e eu não notei. Eu estava
ocupado estudando, querendo ser o primeiro aluno da classe. Eu estava ocupado
praticando piano, querendo bater o recorde mundial de velocidade de execução
daqueles exercícios de Hanon. Eu estava ocupado lendo Nitzsche, assistindo Bergman
e ouvindo Stravinski. Eu estava ocupado criando um personagem erudito, sisudo, enquanto
a vida passava por mim como uma criança descalça, jogando futebol, lendo gibis,
ouvindo samba e comendo goiaba em cima da árvore.
A criança
ensolarada que fui teve seus momentos, mas o adulto cinza foi mais forte,
eclipsou a inocência, roubou-me a simplicidade, a alegria. Toda aquela
exposição gratuita de felicidade daquela praça me incomodava, como um raio de
sol que invade um quarto fechado através da fresta de uma janela, acertando em
cheio o corpo que se abre para o dia, mas com a alma ainda presa à noite. Eu
era um refém da noite, amava a noite, nas sombras eu me sentia bem,
amedrontado, mas acompanhado. Naquele banco de praça, eu me abstinha da
realidade, tudo ficava nevoado, eu embaçava o mundo exterior para achar sentido
para a minha alma tão distante. Debaixo dessa neblina nem percebi quando uma
mulher sentou-se ao meu lado.
- O sol está quente
hoje – disse ela, sem me olhar.
- Para um final de
junho até que está quente – respondi, acordando de meu transe.
- Tenho pressão
baixa, não gosto do calor.
- Entendo.
Era uma mulata, com
um pouco mais de cinquenta anos, bonita de rosto, com o corpo acima do peso. Sua
voz me passava o vigor de uma pessoa que já lutou e sofreu muito, mas que ainda
sonha com a vida. Ela ficou alguns minutos ao meu lado, então voltou a falar.
- Bom, já deu pra
descansar, preciso pegar meu ônibus.
- Boa sorte.
- Ela me olhou e
sorriu, aquilo entrou em mim e me abriu, eu não tive outra saída senão sorrir.
Algumas pessoas tem essa capacidade, de plantar no deserto de nossa desilusão
uma bela flor de esperança.
Numa primeira
olhada, num primeiro contato, não conhecemos os corações das pessoas, vemos
antes de tudo seus rostos. Muitas vezes os corações estão pedindo por socorro
aos berros, implorando por companhia, enquanto que os rostos dizem taxativamente
“não se aproxime de mim, quero ficar só”.
Em minha frente,
sentados num banco, havia um casal. A moça deveria ter vinte e poucos anos, o
homem mais de trinta. Ela olhava para o lado direito, enquanto ele, sentado de
lado no banco, falava-lhe ao ouvido. Ele sorria, ela estava séria, ele tentava
convencê-la de algo, ela resistia, ele a pegava pela cintura, ela tentava se livrar
de seus braços. Era a luta do macho, pedindo um sim, e da fêmea, dizendo que
não, mas querendo, sim. Por que as pessoas não são honestas? Por que elas não
dizem aquilo que realmente querem? Talvez porque elas não saibam o que querem,
e não sabem, não porque não conhecem, mas porque têm medo do que sentem, acham
que aquilo, por algum motivo, não está certo.
Passamos grande
parte do tempo de nossas vidas assim, querendo algo, e sentindo-nos culpados
por querer isso, depois, quando a culpa se gasta, quando a sensibilidade esfria
e então estamos dispostos a fazer qualquer coisa, a paixão foge de nós e já não
há mais prazer. O prazer é filho da paixão, que concebe quando se relaciona com
um coração jovem, sensível, mas repleto de culpa. Somos essencialmente e
naturalmente uma armadilha para nós mesmos, uma equação sem solução, e isso
fica mais claro e mais dolorido à medida que nos afastamos dos outros. A
solidão, ao mesmo tempo que nos revela, nos enclausura, isso porque nos
confronta com a única pessoa que nunca realmente entenderemos nesta vida, nós
mesmos.
Viver a dois deve
ser, no mínimo, uma brincadeira a quatro mãos onde se finge acreditar que o
objeto amado é perfeito, já que é isso que se ocorre na paixão. Essa perfeição
é creditada não porque não se conhece os defeitos do amado, mas porque esses
defeitos são relevados, faz-se vistas grossas para eles por se amar. Tendo
alguém ao seu lado que te ama, que sobressalta suas qualidades, que enaltece
suas virtudes, e esquece, ou pelo menos finge esquecer, de seus defeitos, é a
única maneira de escapar da armadilha que nós armamos para nós mesmos.
Levantei-me,
cansado de mim mesmo, cansado do sol, cansado de estar cansado. Desci a rua da
esquerda da praça e fui em direção ao ponto onde se concentra os camelôs da
cidade, sempre tem alguma novidade tecnológica sendo vendida, esse comércio me
entretém por alguns momentos. O terminal de ônibus e o mercadão, como na
maioria das cidades, também fica nessa região. Não tem lugar que a gente se
sente mais gente do que nessa região do mercadão, shopping centers não possuem
esse charme, um charme simplório, de aromas diversos, nem todos bons, com gente
ansiosa para consumir nada que custe mais que alguns reais. Nesse lugar a
felicidade por ser comprada por um e noventa e nove, e ainda sobre troco para
um pastel com caldo de cana.
No meio daquela
gente que vinha e ia por todos os lados, inclusive de cima e de baixo, uma
aglomeração um pouco maior que a normal se formava a minha frente, pensei, deve
ser o “homem da cobra” ou algum pregador ensandecido. Desviei-me pela esquerda,
contudo, quando passei os olhos vi, entre um motorista de ônibus e uma mãe com
um bebê no colo, o centro da roda. Parei e aproveitando a brecha que havia
entre o homem e a mulher, pude ver com clareza o que acontecia.
Uma moça, com
jaleco branco, apertava pausadamente o peito de uma mulher deitada no chão,
eram exercícios de ressuscitação tentando reanimar alguém que havia tido uma
parada cardíaca. Minha atenção inicial foi para o movimento desesperado da
moça, mas depois de alguns instantes pude ver o rosto da mulher caída. Era
aquela senhora que tinha se sentado ao meu lado no banco da praça. Naquele
momento o meu coração apertou e subiram aos meus olhos um gosto amargo que
amarrou meu semblante, eu me assustei.
Em seguida chegaram
os paramédicos com uma maca, eles pegaram a mulher e a levaram para uma
ambulância parada no estacionamento do mercadão. Todavia, passada e rendida, a
moça de jaleco suspirou as palavras: “o coração parou, eu não consegui, ela se
foi”. Mais alguns minutos e a roda se desfez, eu fiquei lá, congelado,
acompanhando com os olhos a moça de jaleco desaparecer lentamente na multidão.
A lua se pôs sobre
o sábado, eu voltei a minha noite, no escuro de minha alma dei meia volta e fui
para casa, não, nenhum prazer bobo de comprar uma bugiganga eletrônica tiraria
de mim aquele clima depressivo. Cheguei em casa, fiz um lanche frio e voltei
para a cama, à noite o Grande Hotel novamente me aguardava para uma
apresentação de piano, mas não sei porque, Breno apareceu em minha mente. Eu o
via de negro, rindo, ao lado do corpo da mulher morta, ele ria e olhava pra
mim, e aquilo, de alguma maneira, consolou-me, me mostrou uma saída.
Aquela experiência
me colocou de frente com a morte e essa não me pareceu tão ruim.
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“Ó SENHOR, agora tira-me a vida, pois, para
mim, morrer é melhor que viver. O SENHOR respondeu: É razoável essa tua ira?.”
Jonas 4.3-4
Morre-se antes do
tempo, e muitas vezes, se mata outras tantas, não a carne, mas a alma, isso
quando se priva o ser humano de seus tempos. A criança que não se deixar
brincar, o jovem que se impede de sonhar, o adulto que não tem direito a se
apaixonar.
A melhor
brincadeira é a mais simples, nos braços da natureza, na grama, na terra, na
água, com o ar limpo e as pernas e braços livres pra correr, isso traz alegria
ao coração e expande a mente.
Temos liberdade de
sonhar ao lado de amigos, procurando e encontrando o amor de nossas vidas, exercendo
uma profissão que entregue as pessoas o nosso melhor, criando filhos, nosso
maior legado, que perpetuarão nossas virtudes, nossa missão de mudar o mundo
para melhor.
Manter um coração
apaixonável é missão do espírito livre, a paixão que transforma sonhos em
realidade é remédio para as enfermidades, é ela que torna a vida encarnada
eterna, já que se vive a eternidade já neste mundo.
Se a vida só existe
em Deus, somente Deus em nós é que nos faz vivos, “penso logo existo”, diz o
filósofo, mas só em Deus conseguimos pensar de maneira lúcida, só em Deus nos
conhecemos e aos outros. Sem Deus é trevas, se caminha sem rumo, se cai e nem
se percebe, machuca-se a si mesmo e aos outros e nem se sente.
12 de out. de 2014
04 - Cano do revólver
Chovia naquela
noite e a temperatura tinha caído bastante, era uma noite perfeita para se
estar em casa com uma mulher carinhosa, mas eu estava lá, tomando o café da
madrugada.
Em Águas de São
Pedro só tinha velhos, não era feriado, então somente os aposentados com tempo
livre estavam hospedados no Grande Hotel. Esses tinham sido a plateia de minha
noite, na maior parte das vezes eram bons espectadores, são de uma geração que
conhece boa música e respeitam músicos. Então aplaudem com facilidade, fazem
pedidos, participam da apresentação. Apesar de milionários, esse era sempre o
perfil dos hóspedes do Grande Hotel Senac de Águas, eram humildes e sabiam
respeitar arte e artistas.
O mesmo, porém, não
se podia dizer de seus herdeiros, filhos e netos mimados por uma riqueza que
eles não produziram e que gastavam facilmente sem saber realmente quanto
trabalho e tempo tinha custado para alguém. Mas enfim, músico é pago para fazer
música, não podemos nos importar para quem fazemos e nem o que fazemos.
Repertório e público é algo que músico profissional não pode ligar, tem que
tocar aquilo que as pessoas querem ouvir e pronto.
O bar estava vazio,
Raimundo lavava copos, me encostei ao balcão, cumprimentei-o e esperei o café.
Breno tomou a iniciativa de falar comigo, não o vi chegar.
- Cansado? – disse
ele.
- Bastante –
resmunguei, olhando para ele.
- Você precisa de
diversão.
- Músico não tem
direito a isso, já que todos dizem que já trabalhamos com diversão, mas acaba
sendo um serviço como todos os outros, na verdade é até pior, nós é sonegado o
direito de nos divertirmos com a música. Depois de tocar por quatro horas, em
duas noites seguidas, o que mais queremos é silêncio. Outros, chegariam em casa
e colocariam um CD preferido pra tocar e relaxariam, eu estou com a alma
exausta de produzir harmonias, dominar ritmos, ler notas, movimentas as teclas.
Vou dormir e a “Garota” do Tom ainda continua soando na minha cabeça.
- Uma mulher experiente
pode diverti-lo, uma partida de futebol com os amigos, ir ao cinema...
- Não tenho
paciência pra mais nada.
- Festa de
aniversário de criança, bolo de chocolate com morangos, brigadeiros,
refrigerante, overdose de açúcar – disse Breno abrindo uma gargalhada irônica.
- Casais fingindo
que a vida é perfeita, vinte pessoas entupindo uma sala de estar que só cabe
meia dúzia, privacidade resumida a zero, você é obrigado a rir de piadas velhas,
– eu respondi ponto pra fora toca a minha decepção com a vida – você é casado
Breno? – emendei uma pergunta.
- As melhores
coisas da vida são as mais simples – respondeu ele outra pergunta que não foi a
última que eu fiz.
- Acho que preciso
de prazeres artificiais, mais elaborados.
- Conheço um
traficante que pode te vender algumas gramas de felicidade – disse ele dentro
de sua camisa preta de cetim que brilhava de uma maneira excepcional naquela
noite.
- Não, eu passo, –
respondi sorrindo – nunca entrei nessa, já tentei fumar um baseado, mas
engasguei até e não senti nenhum barato.
- Você é um músico
diferente, a sua galera geralmente cheira muito, fuma muito.
- Viajo muito mais
lúcido, nem álcool tenho bebido mais, parece que nada faz efeito, só não
dispenso o café.
Nossa conversa foi
interrompida com a entrada de um homem no bar, ele vestia capacete de
motoqueiro e tinha na mão um revolver.
- Todo mundo
quieto, passem o dinheiro – dizia o ladrão enquanto apontava a arma para a moça
do caixa que tirava o dinheiro das gavetas e jogava no balcão.
Eu travei, fixei os
olhos nele e permaneci imóvel, desobedeci uma das orientações que dão aos que
enfrentam essa situação, de nunca encarar o bandido.
- Você está olhando
o quê? – me disse o ladrão, eu permaneci calado.
Debaixo da viseira
do capacete podia-se discernir o brilho dos olhos do marginal, um brilho
terrível de quem não dá nenhum valor para a vida, então ele repetiu.
- Está olhando o
quê? – naquele momento eu me senti absolutamente sozinho no lugar, eu o
encarava, mas a minha visão periférica, ofuscada, não via mais ninguém, fosse o
Raimundo, Breno ou a moça do caixa. Por um segundo eu me vi acima daquele
lugar, fora de mim e dentro de mim ao mesmo tempo, como num sonho. Aquele
filminho que dizem que se passa na nossa frente quando estamos próximos da
morte, pois bem, ele não passou pra mim. Eu não vi passado, não achei presente,
apenas me dei ao direito da possibilidade de um futuro que até agora eu não
tinha pensado.
- Você quer morrer
cara? – as três chamadas que ele me fez foram muito rápidas, uma atrás da
outra, isso é, foram rápidas para os outros, para mim pareceram durar uma noite
inteira, então ele atirou, bem, o revólver está com o cano grudado na minha
testa, eu ouvi com clareza o gatilho sendo apertado.
- Morre... – mas eu
não morri, alguém, em algum lugar fez com que a arma falhasse, não somente uma
vez, mas duas, já que ele tornou a atirar. Sem balas ele bateu com a arma na
minha cabeça, eu ainda consegui vê-lo saindo correndo, mas depois só fui ver
novamente a moça do caixa, passando um pano molhado e frio em minha cabeça, eu
estava sentando num cadeira com o Raimundo e um dos cozinheiros do bar ao me
lado.
- O que é que
aconteceu?
- O cara bateu em
você e vazou, você desmaiou – disse Raimundo
- A arma, eu o ouvi
atirando.
- É meu amigo, você
nasceu de novo, o revólver falhou, duas vezes – me respondeu Rai com seu
sorriso carinhoso.
Ainda fiquei
sentado por alguns minutos, esperando a zonzeira passar, tinha um galo enorme
na cabeça, mas não tinha sangrado.
- Acho que vou
indo.
- Tem certeza de
que não quer ir a um pronto-socorro? – disse a moça.
- Acho que estou
bem.
- É bom tirar uma
chapa, pra ver se não quebrou nada. – reinterou Raimundo.
- Tenho cabeça
dura, é mais provável que tenha trincado o revólver – respondi enquanto me
levantava. Breno não estava por lá.
A rua estava
coberta de névoa, a chuva tinha parado, mas eu sentia o ar molhado e frio. Como
de costume seguia a pé pra casa, já tinha deixado meu carro por lá antes de vir
ao bar. Passei pela praça, mas pude ver, sentado sozinho num banco, no meio da
praça, Breno, que baforava tranquilamente a fumaça de uma cigarro. Ele estava
longe, mas mesmo assim o brilho de sua camisa negra de cetim realçava, parece
que o nevoeiro nem o tocava.
Tive vontade de me
aproximar dele, dei alguns passos, mas parecia que algo me segurava, mesmo os
passos que dei não me levaram mais perto dele, ao contrário, Breno me pareceu
estar ainda mais longe, mais ofuscado pela névoa. Mas não era somente minhas
pernas, que pareciam não me levar aonde eu queria, meu coração estava apertado,
me sentia como naqueles sonhos onde a gente vê o quarto, ao redor da cama,
parecendo-nos que estamos acordados, contudo não conseguimos abrir os olhos e
nos levantar. Eu desisti, dei meia-volta e fui para casa.
Cheguei em casa e
liguei o televisor, passava um filme de ficção científica, desses de viagem no
tempo, o nome era “Looper” e o protagonista, Bruce Willis. O filme falava sobre
assassinos pagos para matar alguém que vem do futuro, enviados ao passado por
meio de uma máquina do tempo. Dessa forma, no tempo presente da vítima o crime
seria ocultado. Contudo, o feitiço vira contra o feiticeiro para o protagonista,
já que num determinado momento é enviado para ser morto por ele, ele mesmo.
Junto dele meso, uma quantidade considerável de barras de prata é mandada, se
ele aceitar a missão e matar a si mesmo, poderá viver trinta anos gozando a boa
vida adquirida pelas barras de prata, mas consciente que depois desse tempo ele
seria enviado ao passado para ser morto por ele mesmo. O protagonista nega-se a
se matar, ele quer quebrar o “loop”, mas se agir assim será morto no passado,
pela organização que administra os crimes, e obviamente não terá futuro.
Como toda história
de viagem no tempo, existem situações que não são possíveis, mas a ideia do
filme me fez pensar. Você morre, ninguém leva a culpa pela morte, e nem mesmo
você já que mata alguém do futuro que você nem conhece. Além disso ganha um
tempo considerável de vida com muito dinheiro pra gastar. Naquele momento achei
que eu já tinha vivido o suficiente, que era por isso que nada mais parecia ter
graça pra mim, pensei que talvez fosse o tempo de eu partir deste mundo.
--------------------#--------------------
A morte legítima se
merece quando não a queremos, ela deveria nos ser concedida quando concluímos
que a melhor coisa que existe é viver, e viver com Deus. Obviamente, muita
gente, no livre arbítrio que lhes é dado, vive e vive e não aprende a maior
lição da existência encarnada. Assim, passa-se seu tempo, elas precisam partir,
e morrem do jeito errado, sem Deus.
As maiores bênçãos
que provamos de Deus são aquelas que nunca ficamos sabendo de suas existências,
não nesta vida pelo menos. Elas são grandes justamente porque se soubéssemos
delas elas perderiam o valor. Que bênçãos são? Os livramentos que Deus nos dá
de mortes antes do tempo certo. Elas não seriam tão benção porque se
soubéssemos delas ficaríamos traumatizados, mesmo que livres do fim, então Deus
nos poupa, duas vezes, da morte e do trauma dela.
Mas as mortes que
sofremos antes do tempo são aquelas provadas voluntariamente por nós mesmos,
quando nos colocamos em situações de risco. Dirigir um carro acima do limite,
beber bebida alcoólica sem moderação, fumar, assim como guardar rancor,
represar ansiedades, não aceitar os próprios limites, dores psicológicas que se
transformam em enfermidades do corpo.
Se conseguíssemos
viver toda uma vida em intimidade com Deus, a morte seria simplesmente dormir
no copo e acordar no céu, como as mortes que o profeta Elias e Enoque tiveram,
sem dor, sem trauma, em plena paz.
“Enquanto eles estavam caminhando e
conversando, um carro de fogo, com cavalos de fogo, separou-os um do outro; e
Elias subiu ao céu num redemoinho.” (II Reis 2.11)
“Enoque andou com Deus até que não foi mais visto, porque Deus o havia
tomado.” (Gênesis 5.24)
11 de out. de 2014
05 - Invenção a três vozes
Uma nota grave, a
vibração de uma corda grossa, soa em nossas mentes quando estamos no silêncio
de fim de noite, tentando nos desvencilhar de nós mesmos, procurando dormir. É
o primeiro lá do piano, um tom baixo, mas pianíssimo, que já foi sétimo dó,
agudo e fortíssimo, que incomodava-nos o dia todo. Agora é uma lembrança menor,
dói menos, a tensão da corda da alma foi diminuída.
Uma melodia de
lembranças toca dentro de nós, notas diferentes, variações de alturas, timbres
e volumes, às vezes ela faz sentido. Então somos acalentados por uma sonoridade
original. Cada um de nós pode compô-la, mas somente nós podemos ouvi-la, nós e
Deus. Essa melodia é a trilha sonora de nossa vida, que entrega poesia à existência
mais solitária e esquecida, todos nós temos uma canção dentro de nós.
Casar-se é
harmonizar nossa melodia com outra, numa exclusividade que somente o verdadeiro
amor permite, já que naturalmente, como sátiros gregos, queremos tocar nossas
flautas livremente pelos bosques, seduzindo ninfas diversas, sem pertencer,
contudo, a nenhuma delas.
É magia pura arranjar
duas melodias distintas para formar uma música de duas vozes, como numa
Invenção de Bach, contrapondo e se apoiando, ao mesmo tempo, entrelaçando, sem
que uma seja mais importante que a outra. Fica muito mais bela uma música com
duas vozes, com dois instrumentos, duas almas.
Naquela noite, no
Grande Hotel, o repertório caminhava suavemente, as passagens entre uma música
e outra parecia acontecer com naturalidade, levando os ouvintes a uma
experiência tranquila, suscitando lembranças e sentimentos com ternura, devagar.
Aplaudiam quase que
durante todo o tempo, uma noite especial, mas adequada a um público de quase
quarenta anos para mais, um público maduro, gente que já tinha passado, que já
tinha memórias. O bloco que eu tocava era uma seleção de música de cinema,
testemunhas de momentos importantes de muitas vidas.
Um senhor estava em
pé ao meu lado, já desde o começo da música que tocava, “Somewhere in time” de
John Barry, tema do filme “Em algum lugar do passado”. Essa é uma peça que
sempre agrada às pessoas, elas dizem que o Grande Hotel se parece com o hotel
do filme, mesmo que o do filme estivesse na frente do mar. Quando acabei de
tocar o homem começou a falar comigo.
- Este piano é bom?
– disse ele.
- É um Bechstein
bem conservado, um bom piano de armário – respondi com a voz baixa e
cerimoniosa.
- Eu tenho um
Steinway & Sons – disse ele com um largo sorriso na boca.
- Top, esse sim –
respondi com admiração.
- Comprei em Nova
York, lá tinha vários modelos pra gente tocar e escolher, importei por cento e
vinte mil reais - respondeu ele
realizado.
- O senhor deve
tocar muito bem – perguntei com seriedade.
- Muito pouco –
disse o velho sem dar muita importância.
Bem, ele tinha
conseguido seu intento, expor seu poder aquisitivo, não, aquele povo não fazia
isso por mal, na verdade aqueles com posses há mais tempo, por gerações
anteriores, nem se davam mais a esse trabalho. Esses já tinham se entediado com
as coisas materiais que o dinheiro pode comprar, agora queriam cultura e arte.
No caso daquele advogado
aposentado, herdeiro de terras e imóveis adquiridos pelo pai e o avo no começo
do século XX, ele se sentia muito bem ouvindo sua própria voz listar os bens
que colecionava, sim, porque quando já se tem tudo o que se precisa para viver
bem, passa-se então a colecionar, repetir o que se possui, de marcar, tamanhos,
cores e procedências diferentes.
Pra mim, que sou pianista,
ele falou sobre o Steinway que possuía, para outro ele poderia falar sobre o
Porsche, a Ferrari ou a Maserati. A ostentação daquele senhor não era
intimidadora, ele não usava o que tinha para humilhar os outros, mas para se
valorizar. Fiquei imaginando-me numa loja de pianos no exterior, onde se tem
muito e bons instrumentos disponíveis para serem tocados e admirados.
Toco das dezenove
às vinte e três horas, mas no meio, às vinte e uma horas, os hóspedes entram no
restaurante principal para jantar então o bar fica quase que vazio. Desta vez a
única exceção foi uma senhora, pouca coisa mais velha do que eu, que os
cosméticos caros, produtos de beleza e uma vida cheia de confortos fazia
parecer que tinha menos idade do que eu.
Na verdade eu não a
percebi, durante as duas horas iniciais que toquei, ela estava bem atrás de
mim. Como fico de costas para as mesas, uma posição bem deselegante, mas aquela
que a gerência prefere que o pianista se coloque, não a tinha visto. Quando a
sala ficou vazia, notei, quando terminei de tocar “The way we were”, cantada
por Barbra Streisand no filme com o mesmo nome, um aplauso solitário, então
olhei para trás e a vi. Ela se levantou e veio falar comigo.
- Obrigado por
tocar esta música – disse-me ela com um brilho emocionado nos olhos.
- Eu é que agradeço
por seus bons ouvidos – eu tentava, mas não conseguia ficar distante daquela
gente, sempre era traído pelo coração, principalmente quando alguém
transbordante de emoção me elogiava.
- Essa música
marcou a minha vida, meu primeiro encontro com meu marido foi assistindo esse
filme – ela olhou para baixo e com um sentimento profundo de tristeza contida
que somente mulheres bem educadas e sensíveis têm me falou. Ela não parecia
estar ali, pertencer àquele momento, ela estava distante, num outro lugar, num
outro tempo.
- Barbra e Redford,
filme de Sydney Pollack, canção maravilhosa, uma de minhas preferidas –
respondi consciente de que nenhuma sinceridade minha seria suficiente para
tratar com elegância àquela dama tão refinada.
- Ele morreu há
três anos, de câncer, meu marido – meu Deus, eu desmoronei, rendido, meus olhos
aguaram, meu coração se derramou, não sabia o que falar, ela me ajudou.
- Já estávamos nos
preparando para isso há algum tempo, sua doença era na cabeça, não tinha cura.
É difícil, mas a vida segue, neste hotel, contudo, parece que o tempo para –
era exatamente o que eu sentia naquele lugar.
Ela me estendeu a
mão, eu me levantei, apertei sua mão com minhas duas mãos e em silêncio ela se
retirou. Parado, ao lado do piano, olhei-a até que ela entrou no restaurante.
Aquele piso de grandes ladrilhos brancos e pretos, posicionados diagonalmente,
embaralharam minha visão, sentei-me meio zonzo, aproveitei para dar um
intervalo e tomar um café.
Pedi um café,
encostei-me ao balcão e tomei, o garçom que me serviu entrou na salinha
reservada do bar, provavelmente para beber o resto de vinho que tinha sobrado
em uma garrafa. Olhei para a esquerda e vi o jardim de inverno vazio. Olhei
para a direita e não havia nenhum funcionário na recepção. Na porta do
restaurante também não havia ninguém. Eu apenas ouvia um ruído distante de
gente conversando, que parecia não vir do restaurante, mas de um lugar bem mais
distante. Era um som grave e baixo que batia nas paredes de minha memória
ecoando meu passado.
Lembrei-me das
meninas por quem me apaixonei. Lembrei-me daquele sentimento único que se tem
com dezessete anos quando se declara para uma mulher que se gosta dela. Só o
dizer das palavras já nos enche de prazer, um prazer misturado com medo, um
medo que nos enche de coragem, uma coragem que nos deixa prontos para nada, já
que seja qualquer for a resposta da mulher, já estaremos felizes só por dizer a
ela o que sentimos. Amor platônico é assim mesmo, dura enquanto não o verbalizamos
à pessoa amada, depois da declaração ele desaparece, como tem que ser, ele só
pode existir na ilusão.
Aquela senhora era
uma menina apaixonada, experimentava um amor platônico às avessas, que podia
ser sentido, mas não realizado, não mais. Seu amante não tinha mais corpo,
agora era alma, ausente do mundo, mas presente em seu coração. O que é mais
presente que alguém que ainda se ama? Ele se foi, mas ficou o afeto. A saudade
é o que existe de mais real, eterniza algo tão humanos e finitos, nossos
sentimentos.
Saudade não é a ausência, mas a presença, já
que se algo tivesse realmente ido embora não estaria mais presente no coração
como saudade. Aquela senhora, tão nobre que me pareceu, esforçava-se para
harmonizar a melodia de sua alma com a saudade, uma melodia que se enfraquece
com o tempo tanto quanto faz aumentar a dor. A dor da saudade reside no fato de
se tentar manter vivo algo que morre, mais e mais com o tempo. A impotência de
manter vivo algo que só existe no coração, um fadeout infinito de uma melodia
única que já nos fez dançar de alegria um dia, é a maior dor que provamos nesta
existência, a saudade.
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Uma melodia maior,
universal, que pode ser conhecida de todos e mesmo assim manter originalidade,
um mistério que as regras da estética não entendem, é Deus essa melódica. Ela
harmoniza com qualquer alma, forma uma sinfonia maravilhosa com qualquer
melodia, seja ela a mais simples que existir, sem cromatismos ou requintes
timbrísticos. A humildade de Deus reside no fato de que através de Jesus, o
Senhor de tudo e criador de todos, ele se compartilha com os homens, orgulhosos,
ingratos e infiéis como são.
A voz de Deus soa
como uma nota agradável, nem baixa, nem alta, acessível sempre, que tem o poder
enarmonizar todos os seres com sua simpatia. Na frequência de Deus todos
vibramos de forma graciosa e equilibrada. Mas não se enganem os que não querem
o privilégio de ter uma experiência com um Deus pessoal que sente como um pai,
age como um pastor e disciplina como um juiz. Deus não é uma energia positiva,
impessoal e distante, presente nas criaturas, na natureza e nos astros. Quem é
Deus? Jesus, verbo, é a definição de Deus e de sua iniciativa em redimir o
homem.
“quando tocaram as trombetas em uníssono e cantaram para serem
ouvidos, louvando o SENHOR e dando-lhe graças, e quando levantaram a voz com
trombetas, címbalos e outros instrumentos de música, e louvaram o SENHOR,
cantando: Porque ele é bom, porque o seu amor dura para sempre; então uma nuvem
encheu o templo do SENHOR”
II Crônicas 5.13
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