Era uma
sexta-feira, o Grande Hotel não tinha me chamado pra tocar naquele final de
semana, tocaria num vernissage no sábado, mas naquela noite eu estava livre. Eu
não queria café, não queria conversa, não queria televisão, não queria sair, nem
queria ficar em casa. Peguei meu celular e comecei a olhar a lista de contatos,
houve épocas em que meu caderninho de telefones era cheio, um caderninho que
mantive até que comecei a me relacionar com Celma.
Quando eu era mais
jovem dificilmente passaria uma noite em casa, sozinho, nem sabia qual era a
novela das oito. Queria conhecer pessoas, queria namorar, precisava do afeto
que só as mulheres podem oferecer a um homem. Não que eu fosse um homem, eu era
um menino, o corpo já estava pronto, mas a alma cheirava talco, alma ingênua
que machucava os outros e a si mesma sem nem perceber o que estava fazendo.
Como esses hematomas que só vemos no dia anterior e que nem lembramos como os
adquirimos, de tão excitados ou embriagados que estávamos. Os hematomas da
alma, contudo, não somem facilmente, permanecem conosco por muito tempo, alguns
para sempre.
Mas esse tempo
tinha passado, naquele momento em que eu olhava meu celular eu era um velho, o
mais velho que fui, com a alma azul de tão ferida. Minha lista digital não era
tão grande quanto o caderninho, de alguma maneira eu tinha virado monge, me
escondia das mulheres. Entre donos de barzinhos, gerentes de clubes, gerentes de
hotéis, empresários e músicos, achei o número de Juliana, aquela que atropelou
o Reinaldo. Olhei para ele, olhei para o céu negro que pela janela entreaberta
de minha sala de estar afrontava minha depressão, e apertei a tecla de discar.
Não tocou muito e alguém atendeu.
- Alo? – eu falei.
- Pronto –
respondeu-me uma voz manhosa.
- Sou o Zé Renato,
quem me passou este número foi a Juliana.
- É ela, Zé, é o Zé
do acidente? – disse ela sorrindo.
- Não o que foi
atropelado – respondi também rindo.
- Lembro-me de você,
me ajudou com o corpo, te levei em casa. – falava com uma voz quente – E aí, o
que manda?
- Liguei pra saber
como estão as coisas – respondi quase que indiferente.
- Aproveitando o
começo do final de semana, – disse ela relaxada – e você, não foi tocar hoje?
Você é músico, não é? – acho que comentei com ela que era pianista, geralmente
as pessoas não dão atenção quando a gente fala que é músico, parece que não
acreditam na gente, mas pelo jeito ela deu alguma importância.
- É difícil pra
músico se divertir, quando todos estão fazendo isso, estamos trabalhando,
quando temos tempo pra diversão, não temos o que fazer. A profissão de músico
rouba do homem a diversão casual que a música pode proporcionar.
- Achei que fosse
legal trabalhar na noite, divertindo as pessoas, ganhar para fazer algo que
muitos pagam pra ter.
- Trabalho é
trabalho, é claro que o ofício da música tem suas vantagens, sobre outros
ofícios, mas também tem desvantagens.
- Como tudo na
vida, algo nos é dado, mas algo é pedido em troca, nunca nada é de graça, às
vezes isso cansa.
- A arte vicia,
trabalhar com ela gera uma adrenalina que outros profissionais não experimentam,
não o tempo todo.
- Bebe alguma coisa
pra relaxar – disse ela novamente rindo.
- Com o tempo
bebida nenhuma relaxa mais, adrenalina é a pior das drogas justamente porque é
a melhor, é natural, insubstituível. Ficar em casa uma noite sem sentir as
teclas debaixo dos dedos, o som de seu instrumento tomando o ambiente, as
pessoas sendo levadas pela música a viajar em suas memórias, em suas ilusões,
consumindo umas as outras, buscando prazer de uma noite que não será eterna,
isso é uma experiência única – filosofei eu.
- Isso é fantástico
– disse ela.
- O coração do
homem não está preparado para tanto prazer, já que essa sensação é fugaz, passa
e fica um grande vazio.
- É o tempo, com o
passar dos anos tudo acaba perdendo o sabor.
- E você, não vai
namorar hoje?
- Quem me dera,
está aí algo que não perde o sabor – ela riu maliciosamente.
- Pra mim perdeu –
disse resignado.
- Perdeu nada, é
você que não achou a pessoa certa.
- Também, não
procuro, como vou achar? – gargalhei com gosto.
- Nem precisa
procurar muito, quando a gente quer a encrenca corre atrás da gente.
- No meu caso, elas
fogem de mim.
- Não fale assim,
estou ficando com dó – uma mulher é sempre mãe, e um homem é sempre um garoto querendo
colo.
- Não está a fim de
tomar uma cerveja? – eu pedi colo.
- Agradeço o
convite, mas estou cansada, vou ficar por aqui, quietinha, tomei meu banho, vou
ver se tem alguma estreia na TV.
- Sempre tem algum
filme que a gente quer ver de novo.
- Verdade, tem
filmes que a gente vê e vê e não enjoa, eu gosto de “O casamento do meu melhor
amigo”.
- As personagens da
Julia Roberts nunca se dão bem nos finais dos filmes, eu gosto de “Crimes e
pecados” do Woody Allen.
- Não conheço esse
filme.
- O Woody trata a
morte como uma solução viável para um cara que não sente culpa, ele é cínico,
mas como sempre é muito engraçado. Gosto do humor intelectualizado dele, que
pena que a vida não é assim.
- Você está muito
pra baixo...
- Estou chato. Está
bom então...
- Mas pode ligar
quando quiser, estou sempre disponível para um papo...
- Vou ligar sim,
abraço.
- Beijo.
Por que eu não me
apaixonava por uma mulher assim, direta? Talvez porque ela não me desafiava com
sua verdade escrachada. Acho que eu gostava era de sofrer, de ser enganado.
Masoquismo herdado de meus pais? Sei lá, eles não eram desafiados pelo mistério,
a isso eles tinham aversão, já que gostavam de ter o controle de tudo. Por
outro lado, eles criavam mentiras, e elas os protegiam. Talvez fosse isso então,
o mistério me seduzia porque era algo que eu não tinha controle, era tudo o que
meus pais não queriam, talvez eu fosse só um adolescente imaturo querendo
desafiar as ordens de meus pais.
Criei coragem e
saí, resolvi ir até o bar do carioca para tomar alguma coisa, eu precisava ver
o céu, minha alma estava sufocada dentro de casa. Naquela sexta-feira o lugar
estava cheio, não havia mesa vazia, gente dentro do bar, gente fora, fumando e
bebendo, somente homens. Há algo de gay enrustido nesses botecos frequentados
somente por homens. Eles até falam de mulheres, mas para ganhar a atenção dos
outros homens, para mostrar para esses que eles são homens. Como dizia minha
mãe, cachorro que late não morde, falavam e falavam, mas eram um bando de
solitários.
Em pé encostado no
balcão, eu era embriagado, não pelo copo de vinho doce, mas pelo barulho,
aquela conversa uniforme onde não se pode discernir pessoa, mas um ruído de
multidão, um ruído alegre. Um homem encostou ao balcão perto de mim e pediu uma
coca-cola.
- Bebendo coca,
aqui? – eu disse, não como crítica, mas tentando puxar assunto.
Não havia padrão
naquele bar, como eu já disse, gente de todo tipo o frequentava, esse cara,
porém, era um pouco diferente da maioria.
- Eu prefiro –
respondeu ele seriamente.
- Você é daqui? –
eu perguntei.
- Sou, isso é, fui
– tinha um jeito concentrado, o tipo que pensa bem antes de falar, um tipo bem
diferente de mim, um tipo racional e não passional.
- Parece paulistano
– fale, e me arrependi, mas eu sempre falo demais e depois me arrependo.
- Já moro em São
Paulo há mais de quinze anos, meus pais moram aqui, mas atualmente estou
trabalhando em Campinas.
- Já morei em
Campinas, durante muito tempo.
- Frequentava esse
bar quando era jovem, acho que meu primeiro porre tomei aqui – barba comprida,
igual a minha, óculos fortes, mais que o meu, calça preta desbotada, camisa branca,
era um pouco mais novo que eu, mas parecia mais cansado.
- Frequento este
bar há pouco tempo.
- Você trabalha com
que?
- Sou pianista.
- Músico, que
legal, eu sou bioquímico.
- Na minha infância
parte das crianças sonhavam em ser astronauta, a outra parte, cientista, desses
que trabalham em laboratórios, com tubos de ensaio, microscópio.
- Eu era uma dessas
crianças, queria ser cientista.
- Eu queria ser
astronauta, acho que sou.
- Por quê?
- Vivo no mundo da
lua – ele riu.
- Acho que o
cientista é o oposto disso, vive trancado num laboratório, olhando
microambientes, preso a uma verdade que não é vista a olhos nus.
- Poeta vive
olhando pras estrelas, para o universo, imaginando mundos que talvez nem
existam.
- Você não precisa
de microscópio.
- Só de imaginação.
- Ninguém vê um
vírus, mas muitos podem morrer com a atuação deles.
- A poesia nos faz
viver, mesmo que de coisas que não são reais, mas o que é real afinal de contas?
- Aquilo que a
ciência prova que é real.
- Então Deus não é
real?
- Depende do que
você chama de Deus.
- Eu falo com ele.
- Acho que não,
você fala consigo mesmo – ele disse com um sorriso clínico nos olhos.
- Ele fala comigo –
respondi olhando para fora do bar, procurando o céu, ele riu.
- Se você fala com
ele, é porque é religioso, mas se ele fala com você, é porque você é maluco,
não se ofenda – Tales, esse era o seu nome, era um materialista, não um ateu,
porque um ateu não acredita em Deus, ele cria em um deus, o tanto quanto a
ciência permitia que ele cresse.
- O que é Deus pra
você? – perguntei curioso.
- Penso que há uma
possibilidade de existir uma energia que de alguma forma tem acompanhado a transformação
do universo, a criação dos sistemas solares, a evolução de substâncias
orgânicas de átomos de carbono em seres unicelulares, que evoluíram para vidas
microscópicas, saíram da água, foram para a terra, para o ar, até que nós, homo
sapiens, aparecêssemos. Existe a possibilidade de que uma entidade maior, consciente
e positiva, tenha acompanhado esse trajeto, uma força que existe na natureza ou
que é a própria natureza.
- Assim? Algo impessoal,
inodoro, insípido, incolor?
- Sim, essa
possibilidade existe, já que em alguns momentos admite-se que se fez necessário
que algo externo interagisse de alguma maneira com a vida para que ela
prosseguisse em sua transformação.
- Algo assim não
pode se comunicar com o homem?
- Mas pra que o
homem precisa se comunicar com um deus?
- Tem momentos na
vida em que a gente não tem ninguém, não acredita em nada, não vê saída, nesses
momentos a fé em um Deus que nos ouve e que pode mudar as coisas é a nossa
única saída – eu percebi que algo se moveu dentro dele neste momento, mas ele
parece ter engolido seco, havia uma espécie de conflito no coração daquele
homem, um conflito que ele não admitiria para ninguém.
- O homem precisa é
de seu trabalho e de seu positivismo. Ser positivo é ter fé, não em algo que
não existe, mas em si mesmo. Ciente disso, mãos à obra, trabalhe e consiga tudo
o que você quer e precisa.
- Acho que você tem
razão, talvez eu esteja onde estou porque sempre joguei a responsabilidade por
mudar a minha vida em outros.
- Não fique triste,
meu amigo, muita gente crê nesse Deus pessoal que você está dizendo, e
conquista as coisas. Não acho que aquilo em que elas acreditam seja verdade,
mas, como diria Maquiavel, os fins justificam os meios. Se as pessoas conseguem
ser felizes e prósperas com uma religião, que seja assim, mas não venham querer
me convencer que eu também tenho que acreditar dessa maneira.
Tales me falou mais
sobre sua vida, ele era realmente um sujeito vitorioso. Graduado e pós-graduado
na melhor universidade do país, com um emprego que o colocava na linha de
frente das necessidades do mundo moderno. Ele trabalhava na pesquisa de
combustíveis alternativos, era casado também com uma química, tinha imóveis
próprios, fazia viagens constantes ao exterior, tudo por conta de seu trabalho
e talento. Com isso tudo, Tales era uma pessoa sem vaidades, via-se isso pelo
modo como ele se vestia, pelo carro que tinha, além de ser um cara culto, que
valoriza arte e literatura. Eu o invejei com todo o meu coração.
Ele tomou mais uma
coca-cola, eu mais uns copos de vinho, pagamos a conta juntos e ele me deu uma
carona até em casa. Para surpresa minha, seus pais moravam na rua debaixo da
minha, mas a maior surpresa eu tive conversando com ele dentro do carro, em
frente de casa.
Conversávamos sobre
música erudita, ele declarava sobre sua dileção por Brahms e Mendelssohn, eu
confessava minha paixão pelos russos modernistas. Eu começava a discorrer sobre
o início da história do jazz quando ele me interrompeu.
- Zé, – ele disse
em um tom grave, como se tivesse acordando de um sonho, interrompeu o resumo da
biografia de Louis Armstrong que eu fazia, olhando com seriedade pra mim, ele
faria algo difícil pra ele, abrir-se, falar sobre seus sentimentos e não sobre
seus conhecimentos – vou falar isso pra você porque é um cara que acabei de
conhecer, talvez nunca mais nos vejamos, mas eu preciso dizer isso para alguém
– bêbado é amigo de todo mundo, eu estava alto, mesmo que ele não estivesse.
- Se eu puder
ajudá-lo – músico está acostumado a lidar com o coração alheio, manipulamos
sentimentos o tempo todo enquanto produzimos música.
- Esse envelope aí,
– eu olhei e vi um envelope na parte de cima do painel – são exames, acabei de
vir do médico. Há algum tempo tenho sentido uma dor de cabeça, fui a vários
especialistas, tomei um monte de remédios, e nada de passar, bem, hoje eu
descobri.
Ele era um cara
muito focado, do tipo reservado, que por algum motivo resolveu me eleger
naquela noite um confidente. Como ele mesmo disse, talvez estivesse fazendo
comigo, um estranho, algo que ele não teria coragem de fazer com um conhecido.
- O que você tem
meu amigo?
- Câncer no
cérebro, não tem cura, o risco de retirá-lo através de cirurgia torna a
operação impraticável, enfim, seis meses, é isso o que eu tenho.
Naquele momento me
faltavam referências para aconselhar, eu era um ser humano não resolvido que
estava querendo tirar a própria vida, não era a pessoa indicada para ouvir
aquela confissão, portanto fiquei quieto, mas creio que era exatamente isso que
ele precisava, já que não era pra mim que ele falava, mas para si mesmo.
- É isso mesmo?
- É, já pensei
muito sobre o assunto, não vou contar pra minha família, pra que fazê-los
sofrer? Que seja por uma semana só, no final da coisa, quando eu realmente
parar de funcionar. Até lá vou guardar segredo, não vou torturá-los com uma
tragédia dessas por seis meses.
Ele pensava como um
cientista, o termo que ele usou, funcionar, mostrava como ele via a vida, a si
mesmo, as pessoas. Mas ele via só o corpo, só a matéria, não via a alma, mais
que isso, o espírito. Como um cientista pode se importar com algo que ninguém
provou que existe?
De novo a morte confrontava-me,
foi assim com aquela senhora que faleceu no sábado de manhã, em meio de
estranhos, foi com o revólver do ladrão que não funcionou, foi com os acidentes
de carro que aconteceram tão próximos, foi com dona Vera, sem falar com aqueles
velhinhos do asilo. Tales tinha sido meu nono encontro, mas meu coração estava
frio, não dei o valor devido a dor alheira porque não dava nenhum valor a
minha.
Tales sofria porque
amava viver, acreditava na vida, em fazer o seu melhor com o tempo que tinha.
Ele acreditava que podia mudar o mundo com sua inteligência, com seu esforço,
ele não queria morrer. Ele procurava a realidade com lentes de aumento, eu contemplava
o céu a olhos nus para fugir da realidade. Eu queria a morte, queria ser
espírito livre, para voar entre as estrelas, eu era astronauta, ele era um
cientista, ambos meninos com brinquedos de homens.
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“Ó SENHOR, nosso Senhor, como teu nome é
magnífico em toda a terra! Tu, que puseste tua glória nos céus! Da boca dos
pequeninos e de bebês fizeste brotar força, por causa dos teus adversários,
para fazer calar o inimigo e vingador.
Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as
estrelas que estabeleceste, que é o homem, para que te lembres dele? E o filho
do homem, para que o visites? Tu o fizeste um pouco menor que os anjos e o
coroaste de glória e honra.
Deste-lhe domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste
debaixo de seus pés: todas as ovelhas e os bois, assim como os animais
selvagens, as aves do céu, os peixes do mar e tudo o que percorre as veredas
dos mares. Ó SENHOR, nosso Senhor, como teu nome é magnífico em toda a terra!”
Salmos 8
Prisões, as pessoas
as criam, e não são prisões de ferro, de concreto, são feitas de ouro. Que
metal precioso é esse? É a cultura, a arte, o conhecimento, a razão, tudo isso
protege as pessoas de seus próprios corações, de seus limites, de suas dores.
Para não olhar para dentro de si mesmas, elas olham para dentro das coisas, da
matéria, daquilo que pode ser controlável. A alma não pode ser mapeada, não se
pode ter um guia que nos encaminhe por seus mistérios, por seus melindres, por
seus vícios, por suas questões não respondidas, sim porque a alma não encontra
respostas na ciência, na filosofia ou mesmo na religião. Então olhamos por um
microscópio dentro daquilo que a mente humana pode explicar e entender, dentro
de um laboratório fechado, com clima controlado, um clima estéril e sem vida.
Outros, contudo,
transviam-se no vazio infinito, deixam suas almas tão soltas pra voar que essas
acabam se perdendo. Inventam realidades que não existem, vivem de fantasias,
tentam o impossível, existir no espírito estando ainda presos à carne. Esses
perdem o respeito pelo tempo, por seus corpos, e esses sim, os corpos, são a
única prisão real para o homem. Está aí o maior de todos os desafios, captar a
eternidade, segurá-la, compreendê-la, mesmo que presos em corpos corruptíveis.
A existência
encarnada é um teste, curtíssimo, uma gota d´água, um teste de uma única
pergunta: você está pronto para morrer? Contudo, só estamos prontos para morrer
quando estamos dispostos a viver, com todas as suas consequências, pagando
todos os preços. O maior de todos os preços é deixar que Jesus viva em nós, já
que nele e somente nele existe vida. Quando isso acontece a morte desaparece, a
falta de funcionamento do corpo torna-se apenas passagem, quando se sai de
dentro de uma gaiola e se pode voar livremente para sempre. Mas o voo do
espírito é aprendido estando no corpo, eis aí o maior dos mistérios, por isso o
teste da existência encarnada é tão importante.
Voar livre através
do espírito é entender que amar é melhor que invejar, que perdoar é melhor que
amargar rancores, que uma vida simples e humilde materialmente é a única forma
de se obter paz real, livre de vaidades, de orgulhos, que pensar no outro, que
fazer o outro feliz, a custo de não satisfazermos as nossas prioridades, é
provar a excelência da existência. Só se voa livre no espírito quando Jesus voa
em nós, quando ele nos pilota, e não o contrário. Quando paramos de tentar
achá-lo com um microscópio e permitimos que ele venha em nosso encontro e nos
revele sua vontade, de cima para baixo, de dentro para fora.
Cientista ou
astronauta? Jesus, esta é a resposta. Só ele nos tira do laboratório fechado do
nosso egoísmo, do nosso orgulho, da nossa mente. Só ele nos livra da liberdade
equivocada, seja dos prazeres do corpo ou da ilusão da alma. Jesus é o
equilíbrio, é a porta e é a sala, nos dá as margens e nos lança ao infinito. Em
Jesus vivenciamos Deus, experimentamos a eternidade ainda no corpo, somos
completados, ele nos contem e nós contemos a ele. Jesus nos alcança para que
nós o alcancemos, no toca para que nós o toquemos. Jesus morre em nós para que
nós vivamos através dele.
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